Fluxo de informação colaborativa em BIM: A importância do BCF
Em um fluxo de processo de projetos baseado em BIM (Modelagem da informação da Construção) a quantidade de informações geradas é elevada, e quando falamos em compatibilização de projetos este fluxo de informação precisa ser estabelecido de maneira colaborativa e através da interoperabilidade, pois a perda de uma informação durante este processo pode ocasionar um erro ou incompatibilidade mantida no projeto.
A também a necessidade de arquivar estas informações durante todo o ciclo de vida da edificação ou do sistema a ser projetado/executado. Podendo assim armazenar as decisões realizadas nos projetos em todas as outras fases (Execução, operação, manutenção, etc).
No setor de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) a falta de interoperabilidade pode contribuir com aumento no custo do investimento global do empreendimento de 3 a 4%, sendo que à introdução manual de dados entre aplicações e duplicações de funções e tarefas corresponde à 2/3 desse acréscimo. (Parreira, 2013).
De acordo com Eastman et al. (2014) a interoperabilidade é a capacidade de um aplicativo computacional de identificar os dados de outros aplicativos computacionais de origem, bem como transferir estes dados para outros. Assim qualquer alteração ocorrida nas áreas ou fases do projeto, será automaticamente identificada, eliminando a necessidade de retrabalhos, facilitando o fluxo de trabalho entre as diversas especialidades de um projeto.
Existem quatro maneiras de trocas de dados entre os aplicativos BIM, de acordo com Eastman et al. (2014), conforme destacado abaixo:
Ligações diretas e proprietárias entre ferramentas BIM;
Formatos de arquivos para integração de geometria: são formatos desenvolvidos por organizações comerciais para estabelecerem interface entre aplicativos diferentes;
Formatos de arquivos de trocas de domínio público que envolve um padrão aberto, que podem integrar as informações dos objetos, materiais e geometrias.
Formatos baseados em Extensible Markup Language (XML): São extensões do formato HTML, que é a língua base da Web, permitem a criação de esquemas definidos pelo usuário;
Cada ferramenta BIM possui a sua própria linguagem, no entanto, em ambiente colaborativo é essencial a partilha e troca de dados entre aplicações. (Parreira, 2013).
A interoperabilidade pode ser proporcionada pela utilização de um padrão de protocolo internacional de trocas de dados, para isso à buildingSMART criou o Industry Foudation Classes (IFC), que é um esquema de dados que torna possível à troca de informações entre diferentes aplicativos para BIM (BuildingSMART, 2012).
Com o objetivo de melhorar a comunicação e dar suporte ao uso do BIM em trabalhos colaborativos, surgiu o BIM Collaboration Format (BCF), que de acordo com o Dicionário BIM da buildingSMART é um esquema usado para trocar informações e opiniões do modelo entre os indivíduos, independente de ferramentas e softwares utilizados. De acordo com Treldal (2016) o seu principal objetivo é à troca de informações rápidas e claras, através de um arquivo de formato XML, que contém comentários, imagens e dados complementares. Desta forma não há necessidade de encaminhar todo o modelo BIM durante a fase de comunicação.
A Figura a baixo demonstra o fluxograma básico do processo de coordenação com o uso do BCF.
Fluxo de coordenação com uso de BCF. Fonte: GDP, extraído de ABDI (2017).
Através do BCF é possível incluir pontos de vista (Imagens), indicar os elementos, indicar o responsável pela adequação/alteração, indicar o estado da pendencia etc.
Assim consegue-se promover um intercâmbio da informação relacionado ao elemento, pendencia ou incompatibilidade, evitando-se o envio de modelos BIM completos com grandes quantidades de informação redundante.
O vídeo abaixo ilustra o processo de utilização de BCF através do conceito OpenBIM.
Existem duas opções de processo para intercambio e utilização do BCF.
A primeira opção é a utilização de arquivos BCF nativos, que precisam de uma troca sucessiva destes arquivos, sendo necessário uma gestão meticulosa das versões do arquivos e devidas nomeações para uma correta interação entre as alterações que o produzem o modelo
A segunda opção é a utilização de uma plataforma de colaboração em nuvem, com integração automática do BCF e possibilitando a visualização das informações por todas as partes interessadas no processo.
Uma ferramenta que auxilia neste processo é o BIMCollab, lançado em 2014 pela empresa Holandesa KUBUS, Trata-se de um serviço de centralização em nuvem com armazenamento estruturado, otimizado através de aplicativos nos softwares de modelagem e checagem. Ou seja, todos os participantes do projeto (Projetistas, construtores, proprietários) podem fazer o acompanhamento e gerenciamento das anotações e compatibilizações em BCF que podem ser criadas em diveras soluções (Solibri Model Checker, Navisworks, Tekla BIM Sight, Revit, ArchiCAD etc).
A imagem abaixo representa o fluxo centralizado através do BIMcollab.
Travassos (2018) estabeleceu um mapa de processo que simula o fluxo de informações após a modelagem das disciplinas até a compatibilização final delas e o levantamento de quantitativo final.
Abaixo eu exemplifico este processo resumidamente:
Vamos considerar os seguintes profissionais trabalhando colaborativamente, trabalhando com as respectivas ferramentas:
- Arquiteto (ArchiCAD);
- Coordenador (Solibri ou Navisworks);
- Engenheiro de Estruturas (CYPE estruturas)
- Engenheiro de instalações (Revit MEP);
O coordenador receberá os modelos em formato .IFC das disciplinas, e federará através do software de coordenação (Solibri ou Navisworks).
Figura 2: Conceito de Modelo Federado. Fonte: MANZIONE, L. (2013)
Neste software de coordenação (Solibri ou Navisworks) sera feita a compatibilização dos projetos, bem como o gerenciamento do mesmo. Assim, será emitido um relatório .BCF para colaboração entre os projetistas através da plataforma em Nuvem BIMCollab.
O fluxo de trabalho pode ser resumido pela figura abaixo:
Fluxo de trabalho para organização do trabalho a ser apresentado no Master BIM Manager da Zigurat (Fonte: BIM EXPERTS e Zigurat)
As imagens abaixo também ilustram este processo:
GUSTAVO MARTINI
Engenheiro Civil e Técnico em edificações, possuo Experiência em elaboração de projetos, orçamentos e planejamento de obras. Possui amplo conhecimento em Tecnologia BIM utilizando os Softwares Revit, Naviswork, Infraworks. Atou como Projetista Sênior na Fundação Parque Tecnológico ITAIPU- Brasil (FPTI) na área de infraestrutura e obras onde foi coordenador de implantação BIM. Atualmente é Técnico em Edificações na SANEPAR, bem como Projetista e consultor BIM na empresa GM Arquitetura & Engenharia